terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O BARATO SAI CARO - Por: Claudia Souza

Na Expomusic 2009, realizada no mês de setembro, alguns fabricantes de produtos brasileiros ficaram decepcionados com a receptividade que tiveram dos lojistas. Ao visitarem os stands dos expositores, futuros clientes potenciais, perceberam a preferência pelos importados da China, sob pretexto de que são mais baratos.

Segundo um resumo do trabalho governamental chamado “Agenda China”, publicado pela Folha de São Paulo em 03/07/08, 96% dos produtos que o Brasil compra da China são manufaturados. Já o Brasil, concentra 60% das suas vendas para o país asiático apenas em minério de ferro e soja. No primeiro semestre de 2008, as exportações brasileiras para o mercado chinês cresceram 50%, enquanto as importações avançaram mais de 70%.
A “devoradora de mercados” como é chamada pelos economistas na web, fabrica nada menos que 75% dos brinquedos, 55% dos calçados, metade das câmeras digitais e 35% dos celulares consumidos no planeta. As exportações chinesas somam 600 bilhões de dólares e crescem a fantásticos 35% ao ano.
Os chineses representam 1/5 da humanidade. Com 1,3 bilhão de habitantes, conta com uma fonte inesgotável de mão de obra barata. Nos últimos anos, mais de duzentos milhões de chineses migraram dos campos para a cidade, integrando-se ao sistema de economia e na concorrência de empregos, sujeitando-se aos piores salários.
Enquanto nos Estados Unidos as montadoras de carros pagam 37 dólares por hora ao operário, na indústria automobilística chinesa a hora sai por menos de 2 dólares. No Brasil, o custo corresponde a quase o triplo disso.
Fábricas chinesas originam a maioria dos brinquedos, CDs, armações de óculos, tênis, relógios, bolsas, instrumentos musicais e outros produtos piratas que invadem o Brasil. O preço chega a ser um décimo de um concorrente formal.
Segundo relatos de alguns especialistas, como a moeda chinesa mantém-se desvalorizada em relação ao nosso Real, para acompanhar este crescimento e diminuir a concorrência, seria preciso que os fabricantes brasileiros diminuíssem seu preço em aproximadamente 30%, e reinventassem o seu modelo de negócio. Muitos não estão conseguindo se adequar a esta nova realidade.

Numa entrevista publicada na Puc Notícias, Rodrigo Dragone, diretor de manufatura da Black & Decker, disse que há cinco anos atrás, a vantagem comparativa proporcionada pela desvalorização do real foi um fator decisivo para que muitas multinacionais investissem no Brasil. Agora, o risco é oposto. "Se continuar assim, muita gente vai transferir a produção".
Newton de Mello, presidente da Abimaq, avalia que as empresas nacionais terão de se concentrar nos produtos em que são mais competitivas. Sendo assim, a produção de algumas máquinas padronizadas pode acabar.

De acordo com a pesquisa da PUC, entre os que estão perdendo o mercado no Brasil estão:
Brinquedos – os chineses custam até 70% mais barato e já ocupam 30% do mercado brasileiro. As empresas brasileiras do setor demitiram 4300 empregados em 2004 e 30 fábricas, incluindo a Estrela, maior fabricante brasileira, pediram concordata ou faliram.

Máquinas – as chinesas custam até 55% mais barato.
No ano retrasado, das 1600 injetoras de plástico vendidas no Brasil, quase 500 eram de procedência chinesa.

Calçados – Os chineses custam até 40% mais barato.
Os fabricantes brasileiros ficam com uma produção correspondente a 10% da chinesa.

Eletroeletrônicos (incluindo instrumentos musicais) - Os chineses custam até 30% mais barato e são o principal grupo de produtos chineses vendidos ao Brasil.

Têxteis - Os chineses custam até 60% mais barato, o que está tirando espaço dos produtos brasileiros no mercado americano.
Ópticos - Os chineses custam até 90% mais barato. Das 152 fábricas de óculos, lentes e armações que o Brasil tinha há 15 anos, sobraram 35.


“Eu tinha 150 Funcionários.
Agora, tenho apenas 50.”


Romeu Casarotto
, dono da Casarotto Instrumentos, iniciou suas atividades há 25 anos, fabricando miniaturas, brindes e instrumentos musicais infantis. Naquela época, tinha 150 funcionários. Quando as importações começaram a tomar conta do mercado, ele teve que demitir 60%.

“Hoje eu tenho apenas 50 funcionários. Os lojistas não percebem que ao desprezarem os produtos nacionais, estão prejudicando o seu próprio país. Quando prestigiamos o mercado interno, geramos emprego, renda, melhoria de vida e automaticamente reduzimos os índices de pobreza e violência. Alguns empresários enriquecem com a essa diferença de 30%, mas correm o risco de perder tudo o que conquistaram, pois aqueles que ele indiretamente “ajudou” a desempregar optando pelos produtos importados, mais adiante, sem opção, poderão adentrar o mundo da marginalidade, prejudicando todos ao seu redor”. Disse.

“Os empresários brasileiros que trabalham corretamente, tem uma tremenda dificuldade de se manter no mercado”


Segundo Odir Pereira Filho, gerente de compras da importadora “Made in Brazil”, no mercado dos instrumentos musicais, os consumidores [músicos] carecem de alguns instrumentos profissionais de alto desempenho, como exemplo, os teclados.
“ Os instrumentos nacionais mais vendidos são os de percussão e os violões com cordas de nylon.
Em relação à qualidade, nos últimos anos, os chineses estão melhorando muito. O fabricante brasileiro tem uma série de despesas com impostos (ICMS, IPI, SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA, IMPOSTOS TRABALHISTAS), matéria prima e transporte, seguro, que implicam na elevação do preço. Os que trabalham corretamente, [sem sonegação] tem uma tremenda dificuldade em ter um excelente produto com preço reduzido. Na maioria dos fornecedores com os quais trabalhamos, em seus Instrumentos, tem peças importadas, muitas vezes a madeira é nacional, mas o captador ou a peça eletrônica vem da China, EUA, etc... Isto porque existe a dificuldade em manter os funcionários aqui para fabricarem estes componentes.” Salientou.

A verdade é que quanto mais desvalorizamos o que é nosso, mais terreno perdemos em todos os sentidos. A música brasileira, passou a ter um maior reconhecimento, quando os próprios brasileiros passaram a valorizá-la. Ainda existem casos muito comuns, de músicos que ganham mais dinheiro trabalhando em barzinhos no exterior, do que aqui no Brasil, mesmo depois da
desvalorização do dólar. Os especialistas em auto-ajuda vivem dizendo: Para sermos amados, devemos nos amar primeiro!

Se não prestarmos atenção, em breve os desempregados brasileiros, especializados em mão de obra produtiva, sem opção, terão de prestar serviços para as indústrias chinesas. Pois a China sim terá poder aquisitivo de manter suas indústrias por aqui e aí, SEREMOS TODOS ESCRAVOS.
REVISTA MÚSICO! - N.3 - NOVEMBRO/09 - PÁGINA 30 E 31

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