Por: Claudia Souza
Pouco se comenta sobre a saúde dos músicos, que nos causam várias emoções por onde tocam.
O Sindicato dos Músicos na cidade de São Paulo (SINDMUSSP), mal sabe informar sobre o plano de saúde e os valores que seus músicos filiados têm direito. Ao entrar no site, o músico interessado preenche um formulário que nunca é respondido. Ao ir pessoalmente até o local, os funcionários, mal treinados, só sabem informar o valor da filiação e que a pessoa deve entrar em contato com a empresa de Assistência Médica que presta serviços para o Sindicato.
Músicos profissionais e amadores estão totalmente desamparados e desinformados quanto aos problemas de saúde que o exercício da profissão pode acarretar. Graças ao advento da democratização da internet, a Blogosfera está recebendo várias postagens de profissionais interessados pelo tema. Segundo seus relatos, entre as principais causas que comprometem a saúde e o bem estar dos músicos estão:
Os instrumentos musicais assimétricos (violão, violino, flauta transversal) que obrigam o músico a ficar torto durante muitas horas causando problemas na coluna, ombros, pescoço, articulação dos punhos, cotovelos e dedos.
O pianista, por exemplo, se for muito alto, é obrigado a ficar curvado para ler as partituras, enquanto o de baixa estatura desenvolve a pubalgia (uma doença que afeta os ossos abaixo da bacia). Entre os poucos estudos encontrados, está o da Universidade do Texas (1989) que apontou em um grupo de 2.122 membros de uma Orquestra Sinfônica, no qual 75% possuíam algum desses problemas. Uma pesquisa realizada pelos fisioterapeutas Edson Queiroz de Andrade e João Gabriel da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 419 músicos de 13 estados brasileiros, mostrou que 88% apresentaram dores nas costas, pescoço e ombro esquerdo.
Jovens alunos aprendem a tocar os instrumentos em tamanho normal. O mobiliário utilizado não condiz muitas vezes com a sua capacidade física. Pequenos estudantes de piano, algumas vezes sentam em bancos onde seus pés não alcançam o chão; os aprendizes de violoncelo costumam sobrepor duas cadeiras para poder tocar o instrumento com os pés apoiados no solo, o que acaba causando elevação excessiva dos ombros gerando desequilíbrios posturais. Segundo a opinião dos especialistas, o melhor posto de trabalho é aquele que permite variações posturais, facilitando a diminuição das contrações musculares;
Ambientes barulhentos, ressecados e poluídos acabam com as cordas vocais de cantores, que com o passar do tempo, apresentam edemas (inchaços) e calos das pregas vocais (problemas mais graves estão potencializados pelo uso de cigarro e álcool);
Alta intensidade dos sons das orquestras durante as afinações geram decibéis semelhantes ao de uma metalúrgica, afirmou a fonoaudióloga e docente titular da PUC-SP, Ieda Russo em uma entrevista publicada na internet. Ela declarou que realiza pesquisas sobre a audição dos músicos há 30 anos e que a amplificação da música nos anos 60, como a dos Beatles, por exemplo, era de 100 watts. Nos anos 90, pulou para 500 mil watts. Sendo assim, o nível normal de audição que é cerca de 20 decibéis, atinge hoje em dia 116 decibéis nas exposições a shows como os de trio-elétricos e de rock. Entre as lesões causadas está a perda da audição. O tratamento acústico e a adequação da dimensão física do ambiente de acordo com o tipo de instrumento a ser executado, podem influenciar diretamente na saúde auditiva dos músicos;
Estresse e tensão causados pelo excesso de horas de treino, ensaios e apresentações, instrumentos e equipamentos de má qualidade, péssima remuneração, cobranças familiares, poucas horas de sono, são causadores de sintomas variados de ordem psíquica ou psicológica.
Ainda não existe efetivamente em São Paulo, iniciativas de conscientização e orientação sobre a saúde dos músicos.
A Nova Ordem dos Músicos do Brasil - Conselho regional de São Paulo está implantando um plano de Assistência Médica para os Músicos afiliados.
Revista Músico - Março e Abril / 2010