sexta-feira, 7 de maio de 2010

STRÉIA DA BANDA REFÉNS TRAZ UMA BELA SURPRESA AO CENÁRIO MUSICAL BRASILEIRO

Por Felipe Machado*

Que o Brasil é um caldeirão de ritmos, cores e culturas não é novidade para ninguém. O que é novidade é ver – e ouvir – tudo isso reunido em uma única banda, como se a maioria dos estilos musicais brasileiros coubesse em cima do mesmo palco. E, mais interessante ainda, é ver toda essa diversidade musical se misturando para dar origem a um belo disco... de rock.

O primeiro disco dos Reféns é assim. Abre com ‘Futuro Pra Quem’, um som moderno com letra de cunho social e mensagem positiva: Pense no mundo melhor pra você / Faça a vida valer / Pense no dia e em cada manhã / Seja você. As letras, de maneira geral, resgatam a crítica social imortalizada pelo rock dos anos 70. Já em canções como ‘Tente Ser um Homem Bom’, os Reféns abusam dos contratempos e soam como uma banda de roqueiros virtuosos; em outra, como ‘Sem Motivo’, alternam riffs melódicos e guitarras pesadas no melhor estilo das bandas de rock pesado dos anos 90.

Talvez pela formação eclética, talvez pela origem variada de seus integrantes, o CD dos Reféns é um tubo de ensaio onde acontece uma alquimia sonora. O elemento-chave dessa combustão é a vocalista e guitarrista Michelle Abu. Apesar de jovem, a bela roqueira baiana é uma multi-instrumentista que acumula uma experiência impressionante. Sua história começa nos anos 90, em Salvador, tocando violão e percussão com as bandas DendêCumJah e Didá. Pouco depois já era percussionista de Margareth Menezes, um dos nomes mais populares da música baiana. No final de 99, dividiu o palco com o lendário Naná Vasconcelos, um dos maiores percussionistas do mundo. Vieram então turnês internacionais, com o Circo Picolino e com o maestro italiano Aldo Brizzi, além de participações em projetos como o CD/DVD ‘Acústico’, do Ira!, e o Maquinado, de Lúcio Maia, da Nação Zumbi.

Mas por que Michelle trocou as baquetas pela guitarra? “Toco a guitarra de uma forma percussiva, quase como uma extensão da bateria.” É verdade: a guitarra de Michelle é uma usina de ritmo de onde sai um groove poderoso, diferente da maioria dos guitarristas de rock. E os outros Reféns não ficam atrás: o guitarrista Rovs Pascoal, de Rio Claro, interior de São Paulo, já tocou com nomes consagrados como Zélia Duncan, Frejat, Luis Melodia e Fafá de Belém. O baixista Luis Fernando Neto, também baiano, estudou no lendário Musician’s Institute, na Califórnia. LF não é um daqueles baixistas que ficam no seu canto, marcando apenas o ritmo. Ele é responsável por algumas das frases mais interessantes do disco, fazendo um belo contraponto às guitarras de Rovs. O baterista Gigante, outro de Rio Claro, também leva a técnica a sério: formado pela Unicamp, apresenta batidas originais e foge do ‘quatro por quatro’ convencional.

Essa experiência ultra-variada foi fundamental na criação do som dos Reféns. Em primeiro lugar, pela qualidade dos músicos. É bom ouvir bons instrumentistas numa época em que todo mundo usa o computador para esconder as limitações musicais. A segunda razão é que músicos com a cabeça aberta conseguem criar além dos clichês.

O disco dos Reféns é uma bela surpresa no cenário musical brasileiro. De uns tempos para cá, parece que o rock virou coisa de criança, com sons fáceis e mensagens infantis. Reféns é um rock para todas as idades, não apenas para adolescentes ligados na última tendência de roupas e penteados. Os Reféns não seguem uma moda; seguem uma ideia, um sonho. Acredite: isso faz uma grande diferença.


* Felipe Machado é músico, escritor, jornalista e atua como editor de multimídia de O Estado de São Paulo

Clique e ouça:

Futuro Pra Quem

http://dl.dropbox.com/u/1960544/Disco%20Refens/1-01%20Futuro%20Pra%20Quem.mp3

Tente Ser um homem bom

http://dl.dropbox.com/u/1960544/Disco%20Refens/102%20Tente%20Ser%20um%20Homem%20Bom.mp3



MAIS SOBRE:

Michelle Abu - Passou por tantos palcos e por tantas experiências musicais diferentes, que a licenciatura em música pela Universidade Federal da Bahia é um mero detalhe. Já fez parte das bandas DendêCumJah, Maria + Zé, Sucataria, e além da banda Reféns mantém o projeto com a banda Ménage.

Michelle também apresenta um currículo invejável e que agrega experiência musical em diversos segmentos da música, entre os artistas estão: Margareth Menezes, Cássia Eller, Sandra de Sá, Daúde, Naná Vasconcelos, Silvia Patrícia (pop rock), Alex Mesquita (instrumental), Roberto Mendes, Zeca Baleiro, Caetano Veloso, Virginia Rodrigues, Arnaldo Antunes, Wanessa Camargo, Maquinado, Maria Preá, Criolina, Aço do Açúcar, Marcela Bella, Motirô, Elza Soares e Marcelo Nova, Benzina A.K.A. Scandurra e Já foi indicada ao Troféu Caymmi na categoria de melhor percussionista/baterista



Rovs Pascoal - Tem um extenso currículo profissional, a começar pelos incontáveis projetos musicais que participou ao lado de grandes nomes da música brasileira como Arnaldo Antunes, Rubi, Junio Barreto, João Bosco, Jair Rodrigues, Kleber Albuquerque,Trash pour Quatro, Andréia Dias, Cérebro Eletrônico, Maryana Aydar, Zélia Duncan, Frejat, Fernanda Porto e Paula Lima, só para citar alguns. Nos últimos anos realizou turnês nacionais e internacionais com artistas populares como Chrystian & Ralf, Zezé di Camargo e Wanessa Camargo. Além do show business Rovs é responsável por diversas campanhas e jingles publicitários para as produtoras A Voz do Brasil, Cine e FLAP. Como arranjador e produtor, trabalhou com Elza Soares, Rita Ribeiro, Maria Alcina, Ângela Ro Ro, Luis Melodia, Simoninha, Fabiana Cozza, Ataulfo Alves Jr, Fafá de Belém e Moisés.



Luis Fernando Neto - Nascido na Bahia começou seus estudos de Música na AMA (Academia de Música Atual) em Salvador em 1985 com os professores Aderbal Duarte, Sérgio Souto e Moisés Gabriele. Em 1995 graduou-se no Musicians Institute (B.I.T) na Califórnia tendo como professores Steve Bailey, Jeff Berlin, Aléxis Skljerviski, Putter Smith, Bob Magnusson, Gary Willis, Tom Warrington. Toca contrabaixo elétrico, fretless e acústico.Participou como contra baixista em diversas gravações de álbuns de artistas como Riachão (sambista), Galvão (novos baianos), Marcio Mello (compositor), Álvaro Assmar (blues man), dentre outros. Dividiu os palcos com músicos dos mais diversos segmentos musicais, entre eles, os já citados Galvão, Álvaro Assmar, Marcio Mello além de Sarajane, Emanuele Araújo, Baby do Brasil, Douglas Las Casas, Ted Falcon, Phil Degreg, Fernando Nunes, Pollaco, Carlos Ezequiel, Lupa Santiago e integrou o Trêmula ao lado de Peu Souza, Pollaco e Cia.
Gigante – É formado em música popular pela Unicamp e atualmente, além de ser o baterista da banda Reféns é também pesquisador de estilos musicais e desenvolve diversas produções independentes como baterista, arranjador e percussionista. Em sua trajetória profissional lançou projetos variados que vão do pop ao experimentalismo, e da música raiz às concepções de música eletrônica. Em paralelo ao trabalho com Reféns, Gigante também faz parte das bandas Meretrio, Clube de Bolso e Eletrogroove.