quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CURSO DE MÚSICA para pessoas em situação de rua

O movimento estadual da população em situação de Rua de São Paulo surgiu no ano 2000 e foi fundado pelo ex-morador de rua Sr. Robson César Correia de Mendonça.
Na década de 90, ao desembarcar em São Paulo, ele foi vítima de um seqüestro, teve todo o seu dinheiro roubado, foi ferido, ficou sem dinheiro e acabou se tornando um morador de rua. Viveu embaixo de viadutos, trabalhou vendendo sorvetes, até que um dia encontrou seus malfeitores. Não conseguiu o apoio da polícia para prendê-los, pois já havia passado um ano da ocorrência. A revolta foi tanta, que numa discussão com a polícia, Robson acabou sendo preso por desacato à autoridade enquanto os bandidos que o roubaram ficavam soltos.
Enquanto viveu nesta situação, ele sentiu na pele as dificuldades de acesso aos serviços destinados à população e constatou a ineficiência de alguns serviços que se propõem a ajudar, com propósito de marketing eleitoreiro. Após ter sido proibido de entrar na Câmara Municipal de São Paulo, indignado, se juntou com companheiros do Albergue Jacareí, Albergue Arsenal da Esperança e Livia Jardim e criaram o Movimento pelos Direitos da População em situação de rua de São Paulo. O encorajamento para lutar pelos seus direitos partiu do conhecimento da existência da Lei 12316/97, sancionada pela Ex-Prefeita Marta Suplicy, que instituiu a "Política Municipal de Atendimento à População de Rua na Cidade de São Paulo", garantindo o respeito e a garantia à dignidade de todo e qualquer ser humano, sujeito de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais garantidos na Constituição, na Lei Orgânica do Município e legislação infraconstitucional" e ainda "a garantia de supressão de todo e qualquer ato violento. Embora a lei exista, pouco dela se aplica aqui em São Paulo.
Em 2005, o Movimento foi recebido pela vereadora Soninha, onde conseguiu o primeiro apoio, conseguindo agendar na sede da Câmara Municipal (onde anteriormente haviam sido barrados) o I Seminário da População de Rua do Estado de São Paulo, que reuniu mais de quatrocentos moradores de rua, o que resultou num Projeto de Lei que ainda está em Trâmite para ser aprovado.
Robson explicou o equívoco que ocorre em relação aos moradores de rua e pessoas em situação de rua. Segundo ele, “morador de rua” é aquele que mora e não tem interesse em sair da rua. A “pessoa em situação de rua” mora em albergues, abrigos, moradias provisórias, cortiços e favelas. São assim designadas porque estão suscetíveis ao desabrigo. Entre esses também estão os conhecidos ‘trecheiros’ - pessoas que estão sempre transitando de lugar; trabalhadores que residem nas periferias e não possuem condições de retornar todos os dias para casa, seja por falta de recursos para transporte ou devido à distância e alguns ex-detentos que depois de libertados, não tem para onde voltar e que devido à discriminação, não conseguem trabalho. A confusão aumenta ainda mais, com a presença dos “escondidinhos” – pequenos infratores procurados pela polícia. Eles agrupam-se aos moradores de rua tornando difícil a sua identificação e ficam aguardando os policiais desistirem da procura, para retornarem para suas casas. Na opinião de Robson, um pouco de psicologia, ajudaria a polícia a identificá-los. Normalmente, os delinqüentes estão sempre melhor vestidos, ao passo que o verdadeiro morador de rua não tem condições para tal.
Os albergues são verdadeiros depósitos de seres humanos, disse Robson. Eles não fazem nenhum tipo de encaminhamento. Não auxiliam na aquisição de documentos, não encaminham para empregos, as assistentes sociais não têm o menor interesse em se envolver com os trabalhos. Apenas fazem uma triagem perguntando o seu nome, de onde e a que veio. Avisam que você poderá utilizar o albergue durante 90 dias e depois terá que sair. Não realizam um trabalho de inclusão social, descobrindo a verdadeira causa que o levou a ficar na rua e ajudá-lo. Robson criticou a “tenda” que ironicamente apelidou de “Circo de Soleil” (Casa Aberta) inaugurada pela vice-prefeita Alda Marco Antonio. Após visitar o local sem se identificar, ele constatou que o espaço disponibilizava televisão, jornais e entretenimento, ao invés de apoio para os encaminhamentos necessários. Como se ainda fosse um morador em situação de rua, ele foi até a instalação, solicitou encaminhamentos para tirar documentação, albergue, curso profissionalizante e finalmente ele pediu algo para comer. Também disseram que não havia nenhum tipo de encaminhamento neste sentido. Por fim, chegou à conclusão que nada estava sendo feito.
PROJETO QUADRANGULAR
O movimento criado por Robson e seus companheiros, idealizou em 2005 o Projeto Quadrangular que atenderia deficientes mentais, deficientes físicos e idosos; através de atendimento terapêutico, formação profissional e sustentabilidade. Os recursos gerados pelo resultado do trabalho seriam administrados por gestores nomeados, a fim de proporcionar o atendimento psicossocial e de saúde necessários para a reabilitação e sobrevivência destas pessoas. Diferentemente de um “manicômio”, o trabalho seria feito a partir de assistentes sociais que encaminhariam a pessoa à um hospital psiquiátrico para avaliação e em seguida para uma residência terapêutica onde se iniciaria o processo de aprendizado para um núcleo de trabalho ocupacional com artesanato e atividades que poderiam gerar renda para eles. Para os mais velhos, entre 30 a 60 anos, seria criada uma cooperativa, não só de reciclagem, mas de pequenos reparos caseiros (jardinagem, eletricista, encanador, pintura de paredes) com a finalidade de geração de renda. “O projeto ainda não foi aprovado, porque não contribui com a indústria da miséria, da qual muitas entidades tiram proveito”, explicou. Das doações recebidas, a pior parte vai parar nas mãos do morador de rua. As melhores peças (doadas por lojas) acabam indo parar nos brechós das entidades que vendem EM NOME DO MORADOR DE RUA que nunca vai chegar a vestir aquilo.
CURSO DE MÚSICA
Em 2005 o Movimento resolveu trabalhar a população de rua através de um concurso CAÇA TALENTOS, com poesia e histórias de vida que deu super certo. No começo deste ano, repetiram a dose com o I Encontro de Cultura e Cidadania na Praça da Sé. Apareceram muitos moradores de rua que queriam tocar algum instrumento, mas não sabiam. Eles demonstravam o interesse, mas não tinham acesso à oportunidade. Num destes eventos, conhecemos a DINA da Ordem dos Músicos, que foi convidada para ser jurada. Quando ela percebeu a necessidade e o interesse daqueles jovens, se manifestou indo falar com o Presidente Roberto Bueno, que nos recebeu e prontamente abriu 20 vagas para o curso.
- Quando contamos para eles, apareceram 80 pessoas querendo se inscrever. Na quinta-feira (12/8), eles estiveram na sede para participar da aula inaugural com o Presidente e saíram maravilhados pela forma como foram tratados. Um deles disse que agora quer aprender a tocar e mostrar para a família que vai conseguir vencer através do seu talento. Completou Robson Mendonça.
Contato: 11 9117-6746 / 9314-0403
situacaoderua@yahoo.com.br
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