segunda-feira, 4 de maio de 2009

11 ANOS SEM NELSON GONÇALVES



Onze anos sem o grande Nelson Gonçalves
No dia 18 de abril o Brasil completou 11 anos sem um de seus maiores artistas: Nelson Gonçalves – até hoje, depois de Roberto Carlos, foi o cantor que mais vendeu discos.
Antônio Gonçalves Sobral - nome de batismo - nasceu em 1 de junho de 1919, em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul. Seus pais eram imigrantes portugueses recém chegados ao Brasil.

Quando “Tonico” como era carinhosamente chamado, tinha seis dias de vida, sua família mudou-se para o bairro do Brás em São Paulo.

Durante a infância, Tonico acompanhava o pai às feiras livres e praças. Enquanto seu Manuel tocava violão, o menino cantava empoleirado em cima de um caixote. Em dias mais difíceis, seu pai chegava a se fingir de cego para comover as pessoas. Na escola era chamado de “Carusinho”, por sua voz excepcional. Como gaguejava, passou a ser também chamado de “Metralha”, já que falava cuspindo as palavras. Mesmo com a disfunção fonética, decidiu ser cantor.
Antes de se tornar "Nelson", Tonico foi jornaleiro, mecânico, polidor, tamanqueiro, engraxate, garçom e boxeador quando aos 17 anos, recebeu a faixa de Campeão Paulista dos Meio-Médios, após vencer 24 lutadores por nocaute e ter perdido apenas duas vezes, por pontos.

Focado em seu sonho, Nelson estudou canto acadêmico por seis anos, com o maestro Bellardi. Aprendeu com o mestre que não era gago, mas taquilárico (do grego takimós: respiração curta, acelerada). Também do maestro ouviu um conselho que mudaria sua vida: deveria ser cantor popular.
Antes de buscar o estrelato decidiu – mais uma vez ouvindo conselhos - que deveria ter um nome artístico. Como Antônio não era sonoro, adotou o nome Nelson, que considerava mais melódico.
Como acontece com tantos artistas e jogadores de futebol, Nelson precisou passar por uma infinidade de testes – e reprovações - para ter seu talento reconhecido. Só prosseguiu na sua luta por acreditar muito em seu próprio talento. Em um dos testes ficou tão nervoso que a voz não saía. Uma semana depois, voltou a fazer o teste, repetindo a canção “Chora Cavaquinho” de Dunga. Foi aprovado e contratado pela PRA-5.

Tempos depois, casou-se com Dona Elvira Molla, com quem teve dois filhos, mas com o mundo em recessão devido aos tambores da Guerra, a rádio fazia cortes em massa. Nelson perdeu o emprego e tornou-se garçom, no bar de seu irmão, Joaquim, na Avenida São João.

Em 1939, Nelson Gonçalves, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde fez vários testes e foi reprovado em todos. Até mesmo o grande Ary Barroso cometeu a “gafe” histórica de não gostar da voz do jovem cantor; mais que isso, o aconselhou a retornar para São Paulo, desistir de seu sonho e voltar a trabalhar como garçom.
Decepcionado, ele retornou à São Paulo onde recebeu um convite para gravar uma valsa de Orlando Monella e Oswaldo França: “Se Eu Pudesse um Dia”.
Em 1941, retornou ao Rio, onde finalmente gravou seu disco de estréia, um 78 RPM contendo o samba "Sinto-Me Bem", de Ataulfo Alves, que resultou na contratação pela gravadora RCA Victor e pela rádio Mayrink Veiga, levado pelo cantor Carlos Galhardo.
A voz de Nelson tornou-se rapidamente conhecida. Foi eleito o "Rei do Rádio", em concurso de popularidade promovido pela "Revista do Rádio". Sua vida melhorou consideravelmente em 43, quando conseguiu um emprego como crooner do Cassino do Copacabana Palace Hotel.

Nelson Gonçalves fez grande sucesso nas décadas de 40 e 50 com as músicas "Maria Bethânia" (Capiba), "Normalista" (Benedito Lacerda/ Davi Nasser) "Caminhemos" (Herivelto Martins) e "Renúncia" (Roberto Martins/Mário Rossi).
Em 52, passou a viver com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira, no Trio de Ouro, com quem teve três filhos (sendo dois adotivos). É uma das melhores fases da vida do artista. No mesmo ano conheceu seu melhor parceiro e grande amigo: Adelino Moreira, um dos maiores letristas e compositores do gênero samba-canção, que compôs para Nelson mais de 370 músicas (algumas feitas em parceria como “Fica comigo esta noite”).
Foi exatamente dessa parceria, que nasceram alguns dos maiores sucessos de Nelson, como "A volta do boêmio", "Deusa do asfalto", Êxtase" e "Escultura". As músicas tinham, sempre, temas românticos, em geral arrebatadores, repletos de histórias de amores perdidos e imortais – apropriadas à voz de grande extensão de Nelson Gonçalves que, aliás, se gabava por usar apenas um terço de sua capacidade.
Tornou-se ídolo brasileiro e marcou internacionalmente no Uruguai, Argentina e Estados Unidos (em 1961, no lendário Radio City Hall, de Nova York). Glamour que esvaiu-se entre 58 a 66, quando tornou-se usuário de drogas. Abandonado por Lourdinha, mais tarde, em entrevista, justificou-se colocando a culpa no relacionamento amoroso. "Traído pela mulher que amava, enveredei pelo pó." Em 1962, resolveu interromper sua carreira e em 1966 foi preso em São Paulo sob a acusação de Tráfico de Drogas, sendo absolvido da acusação após um mês de reclusão.
Com força de vontade e a ajuda da então nova esposa, Maria Luiza da Silva Ramos (sua ex-secretária) conseguiu abandonar as drogas e retomar sua carreira, marcada pela iniciativa de promover uma luta-exibição entre ele e o grande campeão mundial de boxe Éder Jofre, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. A renda revertida foi para instituições de assistência a crianças.

Logo em seguida, Nelson voltou a gravar. O disco "A Volta do Boêmio nº 1" e tornou-se um grande sucesso. Sua voz continuava inigualável. E talvez a interpretação até mais densa por todas as experiências vividas.
Segundo o crítico musical Carlos Rennó, se no início de carreira a voz de Nelson Gonçalves era comparada à do “Cantor das Multidões” Orlando Silva (o próprio Orlando contou uma vez que ao ouvir uma gravação de Nelson Gonçalves, pela primeira vez, no rádio, ele indagou: “sou eu”?) mais tarde desenvolveu um estilo pessoal que o colocou na linhagem de grandes cantores de voz tonitruante, como Vicente Celestino e Francisco Alves.

Apaixonado por música, Nelson Gonçalves sempre foi atento aos novos talentos. Chegou a gravar músicas de diversos nomes da nova geração da música brasileira e com grandes nomes do rock nacional, como Ângela Rô Rô ("Simples Carinho), Kid Abelha ("Nada por Mim") e Lulu Santos ("Como uma Onda").
Em 84 lançou “Eu e Elas”, em duetos com Alcione, Ângela Maria, Beth Carvalho e outras divas da música brasileira;


Em 85 lançou “Eu e Eles”, com duetos com Caetano Veloso, Fagner, Luiz Gonzaga, Tim Maia e outros grandes cantores da MPB.

Durante sua carreira, com mais de 50 anos, gravou aproximadamente 2 mil canções, 183 discos em 78 rpm, 128 LPs e 300 compactos. Vendeu cerca de 78 milhões de discos. Ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Também foi agraciado pela RCA com o Prêmio Nipper, recebido apenas por ele e por ninguém menos que Elvis Presley. Por seu último disco, "Ainda é Cedo" (1997),



Nelson iria receber o disco de ouro


Nelson Gonçalves morreu em 18 de abril de 1998. Durante os anos que precederam sua morte, se definia como o "último dos moicanos", referindo-se ao seu estilo de cantar, que empregava o vozeirão, do qual dizia nunca ter cuidado, citando como exemplo o fato de ter fumado durante 60 anos, até 1995.
No plano pessoal, além dos casamentos com Elvira Molla, Lourdinha Bittencout e Maria Luíza da Silva Ramos, teve muitos casos, alguns rumorosos e até escandalosos para os padrões da época, como os vividos com Bette White e a vedete Nanci Montez.

De seu relacionamento, com Maria (ex-cozinheira do presidente Juscelino Kubitschek), nasceu Lilian Gonçalves (foto), hoje conhecida como a Rainha da Noite de São Paulo, com seus cinco bares na mesma rua da Cidade, a Canuto do Val. Um, deles o “Bar do Nelson”, é todo ambientado em homenagem à vida do cantor e da própria música popular brasileira como, por exemplo, nos tampos das mesas que têm o formato de Lps. No mezanino, quadros em PB e coloridos com cenas de Nelson Gonçalves, como nos estúdios dos programas Silvio Santos e Flávio Cavalcanti, além de algumas imagens de taças, drinques e instrumentos musicais. Um dos grandes destaques do bar é a belíssima linha do tempo que acompanha uma das paredes do bar, desde a entrada, mostrando a notável trajetória do cantor.
Na década de 90 foi encenado nas principais capitais do país o musical "Metralha", uma versão dramatizada de sua biografia, Em 2001 foi lançado o documentário “Nelson Gonçalves”, que contou sua trajetória, protagonizado por Alexandre Borges e Lilian Lemmertz, com direção de Elizeu Ewald e produção executiva de Margareth Gonçalves, caçula de seu casamento com Lourdinha Bittencout. Apesar do musical e do documentário, permanece válido do desabafo do artista que teria sido dito alguns anos antes de sua morte: "Este país não tem memória. Alguém sabe quando morreu Chico Alves? Logo estarão fazendo xixi na minha campa”.

Gastronomia, Música e Turismo
O “Bar do Nelson – o Bar do Boêmio” abre de segunda a sábado, a partir das 17h. Durante a happy hour a música é bem baixa e com o avançar da noite há a presença de cantores e o tom é um pouco mais alto. Cantam na casa, em horários intercalados, Aline Moura, Paulo Rodrigues (que faz o “Momento Nelson”, com incrível semelhança da voz do cantor) e os showmen Stênio Mello e Rickson, muitos deles acompanhados pelo ótimo saxofonista Aranha. “Todas as noites os cantores mostram algumas músicas do Nelson, mas também de outros artistas. Entre as apresentações, o DJ toca músicas que Nelson Gonçalves deixou gravadas”, diz Lilian.
As homenagens a Nelson Gonçalves e à música não se limitam apenas ao ambiente da casa.

Delícias do Cardápio:

No cardápio há mais referências ao boêmio com pratos como Salada do Nelson (alface americana, rúcula, alho-poró frito, fatias de salmão e carolinas recheadas com provolone por R$ 18,00), Picadinho do Boêmio Tradicional (cubos de filé mignon, arroz branco, milho sautê, couve, tutu de feijão, farofa, banana à milanesa e ovo pochê por R$ 28,00), Vinil (disco de filé de frango à milanesa com fettucine ao molho branco por R$ 27,00) e drinques como A Volta do Boêmio (suco de abacaxi, vodka, curaçau blue e leite condensado por R$ 12,00).


Assista um remix de Nelson Gonçalves no Youtube:



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