Maestro Lucas Guimarães e músicos da orquestra durante o ensaio |
A Orquestra Lira Musical de Diadema, também conhecida como Orquestra de Sopros e Percussão de Diadema, atualmente sob regência do Maestro Lucas Guimarães, possui vinte e sete músicos e ensaia duas vezes por semana na Casa da Música, espaço cultural da cidade. Fundada desde 1968, conquistou uma centena de títulos e honrarias, com um acervo de mais de seiscentas obras de autores de diversos gêneros musicais, nacionais e estrangeiros.
Fomos apresentados ao Maestro pelo Delegado da OMB/CRESP-DIADEMA, Genivaldo Batista Leite, que nos acompanhou a esta entrevista. Chegamos bem na hora em que estava acontecendo o ensaio e ficamos emocionados com a dedicação que os músicos têm pelos estudos.
O Maestro Lucas Guimarães, que já possui a experiência dos mestres ao longo dos seus 35 anos de carreira, nos contou que os ensaios começam muito antes de reunirem todos os músicos, devido ao trabalho que se tem para relacionar as músicas e conferir todos os arranjos.
“O público assiste ao produto final e não imagina o trabalho que se tem para chegar a este resultado... É maravilhoso viver de música, mas dá muito trabalho tanto quanto em qualquer outra profissão...” disse o Maestro lamentando o fato de os músicos dificilmente conseguirem um emprego com carteira assinada.
Lucas Guimarães já trabalhou na Europa, foi coordenador musical em São Bernardo do Campo durante oito anos, quando ocorreu a mudança política atual com o Prefeito Marinho que extinguiu a Orquestra Filarmônica, a Banda Sinfônica, Banda Jovem e a Banda Mirim, desempregando assim, vinte professores músicos e desagregando centenas de músicos potenciais. Posteriormente, recebeu o convite de Vanderlei Cesário da Silva, diretor artístico da Casa da Música, para reger a Orquestra Lira Musical de Diadema e aceitou prontamente o desafio.
“Eu estou muito satisfeito porque aqui eu trabalho com um grupo muito bom de vinte e nove amigos, entre músicos e ajudantes” confessou o Maestro.
Além dos trabalhos na orquestra, que rendem um pouco mais do que seiscentos reais, o grupo se fragmenta nas apresentações em festas e eventos, empenhando-se para driblar os compromissos financeiros para a sua sobrevivência. As dificuldades são gritantes em relação à realidade dos músicos dos países mais evoluídos, começando pelos custos dos instrumentos musicais adquiridos aqui no Brasil a preços exorbitantes e dos cursos especializados.
Outro fator preponderante à dificuldade da carreira de músico no país deve-se ao fato de não ter havido a educação musical nas escolas nos últimos anos e que agora se tornou novamente obrigatória, porém deficitária, uma vez que os escolhidos para ministrarem a matéria de música, não são músicos de fato e sim pedagogos que receberão um minicurso equivalente a uma ‘cartilha de vogais do primeiro ano fundamental’ se comparado à música. Em sua definição, Lucas Guimarães disse: “Mesmo que o garoto tenha talento, esse talento precisa ser lapidado por um ourives que conheça a profissão. Aqui mesmo na Casa da Música, várias crianças receberam o ensino através de nossos músicos professores [como Francisco Araújo que lecionou durante muitos anos] e hoje são profissionais da música e já estão tocando por aí”... “Se nas escolas dos seis mil municípios no Brasil, houvesse ao menos uma bandinha pequena que fosse, não precisaríamos criar tantas casas de recuperação de drogados”... Lamentou Guimarães, comparando a carência ao ensino dos americanos em que todas as escolas desenvolvem a matéria com seriedade. - “O ideal seria mesmo promover um grande concurso para avaliar se os músicos estão aptos a darem aulas nas escolas e não utilizar pedagogos para o trabalho.” Concluiu.
Lembrou-se de um movimento chamado “Projeto Bandas e Fanfarras” do qual participou na década de noventa em que se promoviam concursos de fanfarras e bandas no estado de São Paulo em doze regiões, onde se faziam os campeonatos elegendo as melhores para uma grande final. Tudo ia muito bem, quando entrou o governo de Mario Covas que extinguiu todas as iniciativas.
O Maestro Lucas Guimarães também deixou um recado aos dirigentes da Ordem dos Músicos do Brasil, dizendo que se faz necessária a dedicação na defesa aos interesses dos músicos, batalhando para que estes não sejam enganados e iludidos.
- “Nós precisamos de amparo, assim como os médicos, engenheiros, advogados, etc. e o melhor órgão para nos representar é a Ordem dos Músicos do Brasil. Eu estou pessoalmente empenhado em falar com todos os regentes que eu conheço para darem apoio à nova administração aqui em São Paulo. A OMB precisa que neste momento, os músicos tenham confiança nela e formalizem-se através da aquisição de sua identidade funcional que comprova o exercício da profissão através de um órgão reconhecido, uma autarquia federal; esquecendo os desmandos do passado, pois eu percebi que o Professor Roberto Bueno e o Genivaldo estão comprometidos em mostrarem serviços em favor dos músicos e assim eu espero que se faça para que não joguemos palavras ao léu... A Ordem tem que ficar ao lado do músico trabalhador.” Enfatizou.
Apesar de tudo, declarou-se otimista em relação ao futuro dos músicos no Brasil e relacionou alguns conselhos aos nossos músicos leitores:
- “O músico que quer vencer na profissão, assim como um médico ou engenheiro, deve estudar muito. Freqüentar ensaios de orquestras, bigbands, fanfarras... ficar por dentro de tudo é muito importante; não se faz necessário tocar todos os instrumentos, mas conhecer todos eles e tocar bem o seu preferido em toda a sua capacidade de execução. Adquirir competência estudando de quatro a oito horas por dia, ser disciplinado e responsável, pontual, andar sempre sóbrio e com boa aparência.”
Associação Musical de Diadema – Tel. 11 4067-1577—José Barbosa.
Casa da Música de Diadema
Av. Alda, 255 – Diadema – SP
Tel: 11 4051-2628
casadamusicadediadema.blogspot.com
www.amdmusica.com/index.html
Reportagem: Claudia Souza / Fotos: Ribas Martins
Revista Músico! n. 10 - junho/11
Um comentário:
Nessa data as coisas ainda estavam bem... músicos ensaiando com todo comprometimento, nosso pagamento em dias...
É... mas as coisas mudaram e muito... logo após a mudança de prefeito a situação ficou muito ruim... a gora está muito pior mesmo!!!!
A Prefeitura de Diadema está devendo 3 meses de salário para os musicos e não há um contrato de trabalho para nós... não sei o que se passa na cabeça desses politicos... Nós músicos estudamos, fazemos faculdade, lecionamos, ensaiamos horas e horas e na cidade de Diadema não temos valor. Fico impressionada!!!! Os politicos não estudam e nem tem faculdade para se formar mas isso é uma profissão... a de musico não é vista dessa forma. Nós musicos da Lira Musical de Diadema estamos indignados!!! Nossas contas atrasadas,e nosso pagamento não sai... alguém pode nos ajudar?
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